Odetto Guersoni |
Quem foi
aluno da Escola Senai de Artes Gráficas no final dos anos 50 e início dos anos
60 certamente se lembra dos dois professores de Desenho. Um deles era Odetto Guersoni,
gravador, pintor, desenhista, ilustrador e escultor. As obras de Guersoni estão
espalhadas por museus e acervos do mundo todo. O outro professor era também
bastante eclético, acumulando atividades diversas entre si. Seu nome era
Hamilton Saraiva e muitas vezes ministrava suas aulas trajando farda de
guarda-civil pois ele era sargento dessa corporação de elite da cidade de São
Paulo. Não confundir a antiga Guarda Civil de São Paulo com a atual Guarda
Civil Metropolitana criada pelo então prefeito Jânio Quadros nos anos 80. Além
dessas duas ocupações – Professor de Desenho da Escola Senai e Guarda-Civil – o
Professor Hamilton tinha uma terceira atividade que ele não comentava, mas que
era de conhecimento público. Pelo menos para quem assistia aos filmes de Amacio
Mazzaropi.
"Chofer de Praça", primeiro dos seis filmes de Mazzaropi em que apareceu o ator Hamilton Saraiva. |
Os filmes de
Mazzaropi eram lançados sempre no Cine Art-Palácio, na Avenida São João, com
filas enormes para se divertir com o inesquecível caipira do cinema nacional.
Foi em 1960, ao assistir “Jeca Tatu” naquele cinema, ao lado de alguns amigos,
que surpreso reconheci meu professor Hamilton, escondido atrás de um bigode
falso, num pequeno papel de dono de um armazém. Quando o encontrei no Senai ele
confirmou que era ele mesmo e a descoberta logo se espalhou pela escola toda, o
que em nada alterou o comportamento do Professor Hamilton. Sério, exigente e
também paciente com os alunos, ver o Professor Hamilton sorrir era um fato
raro. Mas depois da revelação ele sempre esboçava um sorriso de cumplicidade
quando encontrava com os alunos. O grande sucesso de “Jeca Tatu”, maior ainda
que as formidáveis bilheterias dos filmes anteriores, levou Mazzaropi a
realizar um segundo filme em 1960. Outro personagem da cultura popular foi
utilizado e o filme foi intitulado “As Aventuras de Pedro Malasartes”. Qualquer
aluno do Senai, mesmo aqueles que não tinham aulas com o Professor Hamilton
gostavam de contar que seu professor era artista de cinema.
No ano
seguinte, em 1961, o Professor Hamilton foi visto em “Zé do Periquito” e
assistir aos filmes de Mazzaropi tornou-se obrigatório, não só para rir com os
tipos criados pelo grande cômico, mas também para ver em cena o Professor
Hamilton. Mesmo após haver concluído o curso no Senai os alunos formados em
1961 viram o talentoso professor em “O Vendedor de Linguiça” (1962) e em
“Casinha Pequenina” (1963), este filme colorido. Seguiu-se então a decepção com
os filmes seguintes de Mazzaropi nos quais não mais estava presente nosso
Professor Hamilton. Sabe-se lá porque razão, ele não voltou mais a atuar nas
produções da PAM (Produtora Amacio Mazzaropi), infelizmente.
Hamilton Saraiva com um bigode feito a mão em cenas de "Pedro Malasartes". |
Os filmes de
Mazzaropi nunca saíram de circulação, sendo reprisados constantemente pelos canais
Brasil e Cultura, além de terem sido lançados em fitas VHS nos anos 80 e
posteriormente em DVD. E cada exibição desses filmes é uma oportunidade para
relembrar esse querido professor e por tabela de colegas daqueles memoráveis
anos passados na Rua Muniz de Souza número 2, na Escola de Artes Gráficas do
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI. Tempos dos instrutores de
Linotipo Alfeu e Adão. Tempos dos professores Jacó, Célio, Zezinho; do diretor
Carlos Moneta. Tempos de colegas como Roger Vincent Fildimaque, Edgar
Carnevalli, João Simara Marins, José Hamilton Aissum, Décio Fogagnolli, Dilson
Mezzetti Costa, Charlô da Cruz Leite, Raul de Marco, Wanderlei Vera Mandelli,
Benjamim Fernandes... Melhor parar pois a lista é longa demais.
Bravo como era durante as aulas vemos Hamilton Saraiva numa cena de "Zé do Periquito". |