Lembranças dos tempos em que jornais e revistas eram feitos nas saudosas oficinas tipográficas - Editor: Darci Fonseca

25 de mar. de 2014

JOSÉ AURÉLIO GIONDA, O LINOTIPISTA ‘IMPRESSIONANTE’


        José Aurélio Gionda cursou a Escola Senai de Artes Gráficas, aprendendo a profissão de Linotipista. José Aurélio exerceu essa profissão em diversas empresas, uma delas a Editora Abril, cujo parque gráfico se localizava na Marginal Tietê, próximo à Ponte do Piqueri. E o linotipista José Aurélio residia a poucos quilômetros dali, no bairro da Vila Nova Cachoeirinha. Assim como todas as grandes editoras de jornais e revistas, a Editora Abril substituiu, nos anos 70, o obsoleto sistema de composição que utilizava o chumbo pela fotocomposição. José Aurélio foi mais um dos muitos gráficos que teve que deixar uma grande empresa gráfica e passar a trabalhar em linotipadoras. Em 1979 José Aurélio Gionda tinha que percorrer uma distância muito maior para chegar de sua casa ao novo emprego, a Linotipadora Artestilo, que se localizava à Rua Martim Burchard, no Brás. Ganhava-se pouco, o salário atrasava mas ainda assim os gráficos não perdiam o bom humor.
'Impressionante' devia estar dizendo o
Aurélio na foto, bebendo um chopp
num churrasco em Guarapiranga.
        O grupo de linotipistas do turno da noite era formado pelo José Aurélio, Marco Antônio dos Santos, Jurandir Gomes da Silva, Darci Fonseca e Carlos Terra. Este último um gráfico avesso às brincadeiras, ao contrário dos demais que mantinham vivo o espírito moleque, o que era comum a quase todos os gráficos. José Aurélio tinha o hábito de usar o adjetivo ‘impressionante’ para tudo que fosse excessivo, curioso, diferente, bizarro e que por qualquer razão fugisse da normalidade. O trânsito bom ou ruim era ‘impressionante’; a camisa bonita ou feia do colega era ‘impressionante’; uma moça atraente ou um daqueles canhões que passasse era ‘impressionante’; um gol do Corinthians era sempre ‘impressionante’; e o constante atraso de salário na linotipadora era também tristemente ‘impressionante’. Quase tudo para o Aurélio era ‘impressionante’. Certa noite de trabalho na Artestilo, por volta das duas horas da madrugada, José Aurélio Gionda foi ao banheiro e no retorno gritou para todos escutarem: “IMPRESSIONANTE!”. Ninguém deu atenção ao Aurélio porque o ‘impressionante’ dele era corriqueiro quando ele queria enfatizar algo. Só que Aurélio repetiu mais meia dúzia de vezes o clássico ‘impressionante’, até que todos pararam de trabalhar e olharam para ele. Todos menos o Jurandir, também conhecido por ‘Pau-na-Mula’...
José Aurélio Gionda
        Postado no meio do corredor, Aurélio explicou então o que ele vira no banheiro que era assim tão impressionante. Antes dele o Jurandir havia ido ao WC e lá deixara, boiando no vaso sanitário, um portentoso e realmente impressionante dejeto. Todos os linotipistas, menos o Jurandir, foram constatar a impressionante obra que media quase 20 centímetros com uma grossa circunferência de pelo menos duas polegadas. Sabia-se que o Jurandir tinha essa característica de produzir toletes enormes que muitas vezes necessitavam de duas ou três descargas para ir embora. Desta vez, porém, o tijolo era monumental e o Aurélio sugeriu que o roliço excremento fosse fotografado e enviado para o Guinness Book. Mas naquele tempo não havia celulares com câmara para registrar a obra e a cena ficou apenas na memória de quem testemunhou o monstruoso dejeto que mais parecia obra do Gigante Adamastor. 

Lima e Juari
        O Lima, ajudante de mecânico, teve a ideia de espetar um palito de dentes com uma bandeirinha no cocozão com a inscrição ‘Pau-na-Mula’. O tolete resistiu incólume a dezenas de descargas, até que um paginador apelidado ‘Juari’ decidiu partir o tijolo em pedaços para com sucessivas descargas encaminhá-lo, finalmente, para o esgoto.  E todos voltaram ao trabalho preocupados com o Pau-na-Mula sentir vontade de ir ao banheiro... Aurélio gostava de contar essa história ‘impressionante’ e que, essa sim, merecia mesmo o então desgastado adjetivo. Mas impressionante mesmo era o constante bom humor de José Aurélio Gionda e sua facilidade para ser benquisto pelos companheiros. Aurélio se tornou mais tarde um pequeno empresário utilizando tecnologias do ramo gráfico muito mais modernas que as linotipos que operou por tanto anos. No dia 26 de março José Aurélio Gionda completa mais um ano de vida e o blog LinoeTipo dá os parabéns ao querido colega do ‘impressionante’.