Entre os linotipistas da Folha de S.
Paulo, nos anos 60 e 70 havia um que se destacava dos demais por sua aparência
séria, sisuda mesmo. Mera aparência que escondia um grande gozador que não
perdia oportunidade para ironizar seja lá quem fosse que fizesse alguma
trapalhada. Profissional dos melhores, ele acumulava provas limpas uma atrás da outra, por vezes sem errar uma única palavra durante toda a jornada de trabalho e tinha uma característica peculiar de teclar pois usava apenas quatro dedos, os indicadores e os médios das duas mãos. Mesmo assim era um dos campeões de
produtividade e fica-se a imaginar como seria a produtividade desse linotipista se ele usasse mais dedos no teclado. Falo do
AQUILES FELICIANO AFONSO, a quem Laerte Canil (o 'Carijó') chamava carinhosamente de ‘Antão’
devido à sua ascendência lusitana. Aquiles veio da Impress, empresa do Grupo
Folhas que fazia livros, trazido pelo então gerente gráfico Fábio de Mello, isto em 1965. Quando
a gráfica da Folha necessitou de reforço com a aquisição do jornal ‘Notícias
Populares’, Fábio de Mello levou para a gráfica do 2.º andar da Alameda Barão
de Limeira n.º 425, os linotipistas Jurandir Gomes da Silva, Sérgio Pizzigatti,
Dalvio Oliveira do Nascimento e Aquiles Feliciano Afonso. Um quarteto de respeitáveis profissionais.
A cabeçada salvadora - Aquiles
é descendente de portugueses, mas diferentemente dos patrícios tem sempre
respostas rápidas e aguçado senso de humor. Inteligente de verdade, ora pois... Mas certo dia
Aquiles deu uma de ‘português’, quando estava numa roda de companheiros entre duas linotipos
conversando e segurou num excêntrico da máquina da esquerda e colocou
inadvertidamente a mão na outra linotipo. Ficou grudado e os colegas de trabalho que estavam ao
redor não sabiam o que fazer. Totó (Antônio Faria), Lambari (Altair Martins) e Pau-na-Mula
(Jurandir Gomes da Silva) ficaram tão paralisados quanto Aquiles que, mudando
de cor, suportava o choque de 220 volts. Por sorte passava por ali o paranaense Talarico (Dalvio Oliveira do Nascimento) que ao ver a cena não teve dúvidas, correu em
direção do Aquiles e acertou-lhe forte cabeçada na testa. Aquiles caiu desacordado
para trás e o grupo acreditava que ele não houvesse suportado o choque e tivesse ido fazer companhia a Camões em mares nunca dantes navegados. Alguém correu
para o prédio vizinho, onde funcionava o Departamento Médico para chamar o Dr.
Tomanik, o que levaria pelo menos dez minutos. Enquanto isso Dalvio abriu a boca do companheiro desacordado e puxou
sua língua para fora, desenrolando-a. Dois ou três minutos depois Aquiles recobrava os sentidos
e aos poucos começou a conversar normalmente refazendo-se do susto. Do susto do
choque até que Aquiles se refez rapidamente, mas ficou uma semana com um enorme galo na
testa provocado pela cabeçada salvadora do Talarico. E nunca mais o português segurou em duas máquinas
ao mesmo tempo...
Juventino ou corintiano? -
Reencontrei Aquiles Feliciano Afonso na Linotipadora Godoy, em 1982, onde ele continuou
a ser o mesmo colega de trabalho aparentemente sério mas sempre pronto para
disparar uma frase irreverente. Ao contrário do que seria normal, Aquiles não
torcia para a Portuguesa de Desportos. Afirmava sempre que era torcedor do
Juventus, mas suspeitava-se que Aquiles fosse um corintiano não assumido, inclusive
sendo morador da Zona Leste. Neste dia 17 de janeiro Aquiles completa mais um
ano de vida, devendo estar ao redor dos 70 anos e mantendo a jovialidade, como
pode ser visto nas fotos feitas durante uma reunião de ex-gráficos, ao pé da
Serra da Cantareira, no final de 2012. Parabéns ao Aquiles, linotipista da mais
alta categoria e emérito gozador.
Aquiles Feliciano Afonso (na segunda linotipo) em 1983 na Linotipadora Godoy. Os demais são Darci Fonseca, João Pedreiro e Gelindo Tozzi. |
Meu nome no facebook é ( Fácil comunicação Lauro Jacob ) meus telefones 12 991303022 ou 1235225329 email : multicanal_tv@hotmail.com
ResponderExcluirSou filho de Dalvio de Oliveira queria mais informações da sua história meu ZAP 12991410340
ResponderExcluir