Lembranças dos tempos em que jornais e revistas eram feitos nas saudosas oficinas tipográficas - Editor: Darci Fonseca

11 de abr. de 2013

ANIVERSÁRIO DO 'BATATA', O LINOTIPISTA TRANQUILO


Paulinho, paginador vindo
de Bauru. Grande gozador.
        A Impressora Paulista, empresa gráfica montada por Francisco Cantero, o 'Paquito' já funcionava há cerca de um ano, desde meados de 1962, quando foi contratado um novo linotipista. Bastante jovem e simpático, o moço com sotaque caipira foi logo dizendo que seu nome era Luiz. Havia também ingressado na I.P., como era chamada aquela gráfica que compunha e imprimia jornais de bairro, um paginador chegado de Batatais. Havia na I.P. muitos interioranos, a maioria deles oriunda de Bauru, coincidentemente terra do próprio Paquito. Um desses bauruenses era o paginador chamado Paulinho que além de excelente profissional era um grande gozador. Certo dia alguém perguntou se o linotipista moreno e gordinho (o Luiz) era também de Bauru. O Paulinho, disse que ele, como o outro rapaz, era de Batatais. O chefe da gráfica, o Almeida, sempre sem graça fez a óbvia piada: "Essa cidade, pelo nome deve ser terra de muita plantação de batatas". Brincalhão como só ele, o Paulinho emendou: "E esse Luiz gordinho e moreno desse jeito mais parece uma batata mesmo..." E todos na gráfica passaram a chamar o novo linotipista de 'Batata'. De nada adiantou ele explicar que tinha nascido em Catanduva e que sequer conhecia Batatais.
          O apelido pegou e o 'Batata', quer dizer, o Luiz Batista, nem ligou. Continuou tranquilo como sempre, atendendo a todos com calma e simpatia. Pra falar a verdade, mais calma do que simpatia. E que calma! Na Impressora Paulista havia também momentos de correria, principalmente nas quintas e sextas-feiras com o fechamento do "Jornal de São Caetano", "Tribuna de Santana" e "Gazeta Penhense". Todos se movimentavam freneticamente. Todos menos o 'Batata' que na sua 'Modelo 8' que praticamente só fazia títulos era a própria expressão da calmaria do Caminho das Índias contada na História. E ele seria assim por toda sua longa carreira.
           Reencontrei o 'Batata' na Folha de S. Paulo. Quase 60 linotipos compondo cinco ou seis jornais simultaneamente, no estressante sistema de produção. Só quem não se estressava era o 'Batata' que não se deixava envolver pela correria dos demais, levantando da cadeira tranquilamente para pegar um original e retornando no maior sossego. 'Batata' com sua paz era um perfeito e necessário contraponto àqueles linotipistas desesperados, que mais pareciam estar a caminho de tirar o pai da forca, como se dizia naqueles anos 60.
        Por todos os jornais e casas de obra nas quais trabalhou 'Batata' mostrou que seu lema era 'Devagar também é pressa'. Línguas víperinas contam que a música preferida de 'Batata' é "Sossego", do Tim Maia, o que ele não confirma mas também não desmente. E 50 anos depois de ter conhecido o  tranquilo 'Batata' posso dizer que ele sempre esteve certo pois hoje, próximo dos 70 anos (ou será que já chegou lá?) 'Batata' é o mesmo. Exceto por alguns cabelos brancos e a barbicha grisalha ele é o mesmo risonho jovem chegado de Catanduva, a quem o 'Paquito' deu oportunidade em 1963.
         Parabéns, amigo 'Batata'. Não só pelo seu aniversário em 29 de abril, mas também por ter sido sempre um grande exemplo de amizade e tranquilidade dentro das empresas nas quais trabalhou.